1)
Aprenda com os erros dos outros
Se
você não tem experiência no assunto, vá
com calma. Afinal, ninguém quer ver seu dinheiro escorrer
pelo ralo. Primeiro, aproxime-se de quem já está
habituado a fazer doações, como amigos, vizinhos
ou representantes da comunidade. Aprenda como essas pessoas executam
as contribuições. Tire suas dúvidas, peça
dicas, questione, discuta vantagens e desvantagens, "Esse
primeiro contato é muito importante, porque, com ele, você
poderá evitar enganos que já foram cometidos pelos
outros", afirma Léo Voigt, do Gife.
2)
Defina a área que mais precisa de sua ajuda
Você já pensou em ajudar crianças e adolescentes
carentes? Ou, então, em contribuir com projetos de recuperação
do meio ambiente? Que tal bancar parte do tratamento de doentes
de câncer? Todas essas áreas precisam muito de ajuda,
mas você deve escolher uma. Essa decisão é
resultado de sua própria reflexão. Se optar por
mais de uma área, tenha cuidado para não se perder
em meio a vários projetos e objetivos diferentes.
3)
Em que região deve estar localizada a entidade beneficiada?
O próximo passo é a escolha da área geográfica.
Muitas pessoas preferem estar bem próximas das entidades
que ajudam: a creche do bairro ou a entidade que abriga deficientes
físicos da própria cidade. Nesse caso, há
uma vantagem. Você poderá verificar no dia-a-dia,
como suas contribuições serão aplicadas.
Outras pessoas acreditam que projetos em outros estados, como
as famílias atingidas pela seca no Nordeste ou a destruição
da Floresta Amazônica, são mais importantes. Entidades
locais ou não, a escolha é sua.
4)
Monte uma lista das entidades candidatas à doação
Esta etapa é a mais trabalhosa. Apesar de já ter
em mente o perfil da instituição que pretende apoiar,
é preciso definir uma. Para isso, comece com um levantamento
de todas as entidades que se enquadram nas características
traçadas anteriormente. Se você não tem idéia,
visite o site www.filantropia.org ou consulte as registradas nos conselhos Municipal e Estadual.
Estes últimos são órgãos, compostos
por representantes do governo e pela população,
que acompanham e auxiliam o trabalho de algumas entidades beneficentes.
Normalmente,
eles têm um material amplo sobre as instituições
e suas atividades. No caso de crianças, há o Conselho
da Criança e do Adolescente, que poderá oferecer
informações. As Associações de Pais
e Amigos dos Excepcionais podem ser uma referência para
quem pretende ajudar esse grupo.
O Gife também conta com uma página
na Internet (www.gife.org.br)
que reúne institutos, fundações e empresas
que têm projetos em filantropia. Há uma ficha sobre
cada uma delas disponível no site.
5)
A visita às instituições pode ser fundamental
para uma decisão correta
Depois
da pesquisa, escolha duas ou três instituições
que mais se adequam aos seus critérios
e faça uma visita. "É muito eficaz verificar
pessoalmente (olho no olho) como funciona a instituição
e qual o estado de suas instalações", afirma
Oded Grajew, presidente do Instituto
Ethos e do Conselho de Administração
da Fundação
Abrinq. Descubra qual é
a essência do trabalho desenvolvido. Por exemplo, numa creche,
os dirigentes não devem apenas dizer quantas crianças
abrigam, mas como o fazem, quais os projetos para incrementar
as atividades ou as metas para ampliação do prédio
onde está localizada. "O objetivo de uma instituição
não lucrativa é melhorar a qualidade do seu serviço
a cada dia", afirma Allison Fine, diretora executiva da Innovation
Network, uma consultoria de entidades beneficentes de Washington,
Estados Unidos.
Peça também uma lista das pessoas que estão
na linha de frente da entidade. Conheça melhor suas idéias
e seus valores. Quanto mais você mantiver contato com essas
pessoas, menos surpresas desagradáveis terá. Não
tenha vergonha de pedir informações sobre as finanças
da entidade. Pergunte se as contas são controladas por
alguma auditoria periódica. Peça para dar uma olhada
nos balanços. Se o trabalho for sério, a direção
da entidade não terá problema algum em apresentar
esses dados.
6)
Desenvolva um trabalho em conjunto com a entidade
Definido o
nome da instituição, é hora de você começar
a trabalhar em parceria.
Léo Voigt sugere que a entidade apresente um projeto por
escrito para o qual seria destinada a doação. Um
roteiro de como serão feitos os investimentos, qual o retorno
que se espera do projeto, prazos etc. "Um dos principais
erros cometidos atualmente pelas pessoas e empresas que fazem
doações é que elas não se informam
direito sobre o que será feito com o dinheiro e criam expectativas,
muitas vezes, irrealistas. Acham que vão mudar o mundo",
afirma Voigt. Em alguns casos, quando se sabe qual será
o projeto beneficiado, é possível organizar um calendário
de doações. Elas podem até ser realizadas
em etapas e não de uma só vez.
Além disso, ao ter em mãos
um documento fica muito mais fácil cobrar depois.
7)
Esteja atento aos resultados
Não pense que sua participação chegou
ao fim. Se você desistir agora, pode pôr tudo a perder.
Para qualquer doação ser eficaz, você precisa
acompanhar os resultados. Para estar ligado, peça informes
periódicos para a entidade. Dados como o número
de pessoas beneficiadas pelo projeto, o que foi concluído
e o que ainda falta. Dessa forma, você corre menos riscos
de ver seu dinheiro aplicado em projetos ineficazes. "Se
você faz uma doação para uma escola pobre,
não quer ver seu dinheiro aplicado na reforma da sala do
diretor, mas na compra de material didático para os alunos",
diz Voigt.
8)
Você não é o dono da bola só porque
fez uma contribuição à entidade
Tenha
cuidado para não inverter os papéis. Não
é porque você fez uma doação para determinada
entidade que poderá entrar lá e comandar tudo do
seu jeito. "Esse é um dos equívocos mais comuns
cometidos pelos colaboradores, que acabam se sentindo os donos
do pedaço", afirma Oded Grajew, do Instituto
Ethos. É preciso respeitar o trabalho da instituição
e até ajudar com seu conhecimento ou experiência,
mas sem mudar o que já é feito com eficiência.
9)
Há Benefícios Financeiros?
Os benefícios financeiros de se fazer uma doação
são irrisórios. Não há um programa
eficaz de estímulo à filantropia no país.
Uma das exceções é a cultura. Qualquer pessoa
pode ajudar o financiamento de um projeto cultural e ter esse
valor deduzido até 6% (pessoa física) e 4% (pessoa
jurídica) do imposto a pagar. No caso dos filmes, a dedução
é de até 3%. Quem ultrapassa esses limites não
tem restituição sobre o excedente. Além da
cultura, as doações ao fundo da Criança e
do Adolescente também contam com benefício fiscal.
O limite da dedução do imposto é de 6% para
pessoa física e 1% para pessoa jurídica.
10)
Talvez você possa ser um sócio-contribuinte
Você não tem tempo para fazer tudo isso. Sua
carga horária no trabalho e com as atividades em casa está
totalmente tomada. Você não tem condições
de acompanhar os resultados do projeto e nem manter um contato
mais próximo com a entidade. Há ainda uma última
saída. Você pode tornar-se sócio-contribuinte.
Nesse caso, você escolhe a entidade e faz doações
periódicas. Nos fundos dos conselhos municipais e estaduais
ou da Criança e do Adolescente, por exemplo, a própria
comunidade realiza a fiscalização periódica
sobre o destino das verbas recebidas. Não há necessidade
de um acompanhamento mais intenso.
11)
Seja voluntário
Você
pode ainda contribuir com entidades beneficentes sem fazer doações
em dinheiro. Seja um voluntário. Para isso, aproveite seu
conhecimento ou experiência em determinada atividade e ponha
isso em prática. "O voluntário de hoje pode
ser o doador de amanhã", afirma Stephen Kanitz, organizador do Prêmio Bem Eficiente. Se você
não souber por onde começar, na Internet (www.voluntarios.com.br)
há uma lista de mais de 4 850 entidades que precisam de
seu trabalho. É só dar um clique no seu mouse e
pôr a mão na massa.
Artigo
Publicado na Revista Você S.A. - fevereiro 1999 - ano 1
nº 8.